julho 07, 2011

Setor de segurança privada emprega 20 milhões em todo o mundo, quase o dobro de policiais

Setor de segurança privada emprega 20 milhões em todo o mundo, quase o dobro de policiaisEstudo alerta para descontrole do setor, que ameaça respeito aos direitos humanos. Documento também aponta que, em 2008, Brasil esteve entre os líderes da exportação de armas de pequeno porte e munições, após os Estados Unidos, a Itália e a Alemanha.

O setor de segurança privada já emprega aproximadamente 20 milhões de pessoas. O número é quase o dobro da quantidade de policiais em atividade no planeta. O rápido crescimento é fruto da tendência dos governos em terceirizar suas funções de segurança, conforme relatório lançado essa semana com base nos dados da ONU.

A edição de 2011 da “Pesquisa sobre Armas Leves” (‘Small Arms Survey’), publicada nesta quarta-feira (06/07) pelo Instituto de Graduação em Estudos Internacionais e do Desenvolvimento, contabilizou também o comércio global de armas de pequeno porte e munições. O valor comercializado por ano está em cerca de US$ 7,1 bilhões e, em 2008, o Brasil esteve entre os líderes da exportação, após os Estados Unidos, a Itália e a Alemanha.

Em aeroportos, fronteiras, nas vias públicas e até nas prisões é cada vez mais comum encontrar seguranças privados. A pesquisa revela, no entanto, que os mecanismos de regulação e prestação de contas não acompanharam o ritmo dessa privatização.

Conforme denúncias detalhadamente descritas em seus livros, Noam Chomsky sempre chamou a atenção para o fato de que, para evitar que sejam denunciados por violações de direitos humanos, governos imperialistas e mesmo nações médias e pequenas terceirizam seus crimes contra a Humanidade. É o caso dos Estados Unidos, após sucessivas invasões – desde as mais “midiáticas”, como Afeganistão e Iraque, até intervenções menos conhecidas do público, como as intervenções de forças especiais norte-americanas em 18 países latinoamericanos em 2009, tornadas públicas pela Agência Pública.

Descontrole

Muitas empresas multinacionais não têm sistemas de supervisão fortes o bastante para impedir a contratação de pessoas com histórico de violência, diz o relatório. Isto pode ser percebido pela falta de registros dos abusos.

“Apesar das evidências de que algumas empresas de segurança privada estejam envolvidas na aquisição ilegal de armas de fogo, tenham perdido armas por roubo ou tenham feito mal uso de seus arsenais, não há registro sistemático de tais abusos”.

A Pesquisa sobre Armas Leves é um projeto independente com base nos dados mantidos pela Divisão de Estatística das Nações Unidas e do Registro de Armas Convencionais.

Acesse a pesquisa nas seis línguas oficiais da ONU clicando aqui.

junho 24, 2011

Megaeventos no Rio: comunidade Arroio Pavuna sofre pressão da Prefeitura

Prefeitura do Rio já está aterrando área. Comunidade existe há mais de 80 anos e foi fundada por pescadores. Famílias atingidas não foram convidadas a participar de projeto.

Mais uma comunidade está ameaçada pelos megaeventos que se aproximam e que já fizeram dezenas de milhares de vítimas. Desta vez, é a comunidade Arroio Pavuna, localizada na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que denuncia ações que não respeitam o diálogo com os moradores.

“A prefeitura se apossou (…) da lagoa no lado direito da comunidade Arroio Pavuna. O aterro já está a cerca de um metro de altura. As famílias que deverão ser atingidas não foram convidadas a participar do projeto da tal obra. Já está havendo abuso de poder e pressão psicológica, estratégas arbitrárias para criar atrito entre os moradores”, apontam moradores que nossa reportagem manterá em sigilo.

Segundo a denúncia, o objetivo da Prefeitura é efetuar as vendas das casas do projeto 'Minha Casa Minha Vida'. “Esse projeto de política pública nada tem. Trata-se de um farto comércio fingindo políticas de moradia baixa renda que no fundo favorece empresários e construtoras interessados no mercado de terras”.

Os moradores lembram que as casas dessa comunidade não agridem o meio ambiente. “Os moradores não jogam dejetos no rio e na lagoa. Tem fossas assépticas com filtros, os quintais são bem arborizados, não agridem a fauna e preservam a vegetação nativa. Enquanto isso os capitalistas desmatam toda região, destroem as espécies nativas vegetal e animal e acabam com mangue, e o habitat dos répteis, pássaros e outros animais. O governo permite licença para essas construtoras fazerem o que quiser sem nenhuma infraestrutura”.

Moradores relatam que na última terça-feira (21/6), a Prefeitura, por meio de um homem identificado como Pedro Paulo, ligou por volta de 18h30 para uma liderança da comunidade, com a intenção de conversar sobre a “necessidade de fazer um novo cadastro dos moradores”. Chegou na comunidade depois das 19h. Ele teria pedido que ele retornasse no dia seguinte com uma notificação, conforme exige a lei, dizendo do que se trata e com uma solicitação para entrar nas casas para tirar as medidas e fotos.

Na conversa, ficou estabelecido que voltariam no dia seguinte (quarta 22), às 12h30, com a notificação esclarecendo o motivo da saída da comunidade e uma solicitação de identificação do engenheiro que entraria nas casas.

Segundo o relato, Pedro Paulo prometeu ligar. No entanto, não ligou. Quando esta liderança da comunidade chegou, às 12h, a Prefeitura já estava marcando as casas. Foram impedidos de continuar, pois não possuíam documentos. Na parte da tarde, um funcionário da Subprefeitura identificado como Rogério ligou convidando esta liderança comunitária para estar no mesmo dia com o subprefeito da Barra por volta das 16h. Ela entrou em contato com o Núcleo de Terras da Defensoria Pública do Estado, para facilitar o encontro.

Na próxima terça-feira (28/6), haverá um encontro às 20h reunindo todos os moradores e a Defensoria Pública. Será na Avenida Embaixador Abelardo Bueno, nº 751, na Barra da Tijuca. Localização: Em frente ao Hospital Sarah, próximo ao Condomínio Rio Dois. Interessados podem fazer contato pelo telefone (21) 2421-5416.

Textos meus republicados na revista consciência.net

Meus textos estão sendo gentilmente publicados numa revista aqui do Rio de Janeiro, leia todos em http://www.consciencia.net/author/herivelto/

abril 13, 2011

A Folha de S. Paulo e seu problema básico de interpretação de texto

Fac-símile da capa do jornal Folha de S. Paulo, edição de 13/4/2011A Folha de S. Paulo lançou sua edição impressa desta quarta-feira (13) com a seguinte manchete de destaque na sua página de Internacional: “China frustra Brasil e nega apoio na ONU”.

Segundo este notável jornal brasileiro, “Pequim novamente se recusa a endossar candidatura brasileira a vaga permanente no Conselho de Segurança”.

O nobre leitor de Folha, inteligente que é, concluirá que este país que já se configura como a maior potência econômica do mundo não deu apoio ao governo brasileiro em sua investida por um assento no Conselho de Segurança da ONU.

Pois eis o trecho do comunicado conjunto de Brasil e China (original aqui), divulgado ontem:

“(...) Reafirmaram a necessidade da reforma da ONU, de forma a torná-la mais eficiente e capaz de tratar dos desafios globais atuais. Nesse contexto, a China e o Brasil apoiam uma reforma abrangente da ONU, incluindo o aumento da representação dos países em desenvolvimento no Conselho de Segurança como uma prioridade.

A China atribui alta importância à influência e ao papel que o Brasil, como maior país em desenvolvimento do hemisfério ocidental, tem desempenhado nos assuntos regionais e internacionais, e compreende e apóia a aspiração brasileira de vir a desempenhar papel mais proeminente nas Nações Unidas. Tendo em mente a necessidade de salvaguardar os legítimos direitos e interesses dos países em desenvolvimento, as duas partes comprometeram-se com a contínua intensificação do diálogo e intercâmbio sobre a reforma das Nações Unidas.”


Como esse trecho poderia gerar “China frustra Brasil e nega apoio na ONU”? Em que trecho especificamente a China nega seu apoio ao Brasil? Agora compare a manchete da Folha com a de outros jornais de hoje:


  • TV Globo: “China apoia desejo de Brasil ter vaga no conselho de segurança da ONU”

  • O Globo: “China investe no Brasil e acena com vaga na ONU” [Primeira Página]

  • O Estado de S. Paulo: “China apoia aspiração do Brasil a mais poder na ONU” [Primeira página]

  • Jornal do Commercio: “China faz menção ao Brasil no CS”

  • Estado de Minas: “Brasil atrai negócios e apoio da China na ONU”



Abaixo, disponibilizo para a Folha de S. Paulo um vídeo ótimo, disponível no YouTube, sobre interpretação de texto:



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Herivelto Quaresma é jornalista internacional e blogueiro carioca. Twitter: @heri_quaresma